sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Crônica desconhecida

Procuro desconhecer. Desconhecer as letras, para me deitar nos espaços em branco. Desconhecer os números, para acreditar no infinito. Desconhecer quem me conhece, para descobrir devagar, de olhos fechados, os segredos de cada sorriso. Desconhecer as casas, para me enganar e entrar numa qualquer como se fosse desde sempre. Desconhecer o tamanho do meu pé, para experimentar ser Cinderela. 

Desconhecer a minha mãe, para lhe dar mimos como se estivesse por dentro. Desconhecer todas as avós do mundo, para inventar uma igualzinha à minha. Desconhecer as plantas dos meus vasos, para lhes dar água como se fossem bocas. Desconhecer os beijos, para me deixar estar. Desconhecer as palavras, para acreditar no que se diz. Desconhecer o meu nome para me chamarem sempre por amor. 

Desconhecer os meus vizinhos para lhes perguntar onde vivem. E descobrir que vivem no mesmo prédio do que eu, e que afinal tenho nome, e sapatos à medida do meu pé, mas que nem sempre tenho pé para os dias que correm. Desconhecer que para voar preciso de asas ou de aviões ou de sonhos para além da lógica. Desconhecer o adeus para dar sempre as boas vindas.

Desconhecer que o frio faz frio e o calor faz suar e que as estrelas estão no céu e que a música às vezes magoa e os olhos choram. Desconhecer o som do telefone, desconhecer o calendário, desconhecer o relógio, desconhecer que às vezes quero e outras vezes nem por isso. Desconhecer tudo, devagar, sem pressas. E acreditar que há um tempo certo para aprender a conhecer o desconhecimento pleno das coisas.


Eduarda Freitas
Retirado daqui

terça-feira, 4 de outubro de 2011

5 dias

"De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu."

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Como se fosse a primavera

As cores se destoavam dos ventos fortes que ocupavam aquela manhã. Com os olhos cerrados, ela sentia a calmaria que provinha das flores e que impregnava todo o seu ser. Ela podia suspirar novamente. E com um sorriso de canto de boca, pôde sentir depois de tanto tempo o seu coração soar um palpitar tranquilo e emanar uma paz sem igual. 

Ela sempre se identificou com a primavera, e fez dela, sua passagem de estação contínua. O inverno que cismava sempre em incomodar, ficou em segundo plano de vez. Os antigos amores, assim como as pétalas, se renovaram...dando margem assim aos novos suspiros. Seu corpo se apossou de uma leveza tão profunda, que fez dela leve como uma pluma e fez com que experimentasse assim, a delícia de ser primavera outra vez.